domingo, 27 de março de 2011

Dois "cursos rápidos de Economia" partilhados pela Rede Cidadania Montemor-o-Novo

Curso rápido de Economia I
"Um viajante chega a uma cidade e entra num pequeno hotel. Na recepção, entrega duas notas de 100,00 euros e pede para ver um quarto.

Enquanto o viajante inspecciona os quartos, o gerente do hotel sai correndo com as duas notas de 100,00 euros e vai à mercearia ao lado pagar uma dívida antiga, exactamente de 200 euros.

Surpreendido pelo pagamento inesperado da dívida, o merceeiro aproveita para pagar a um fornecedor uma dívida também de 200 euros que tinha há muito.

O fornecedor, por sua vez, pega também nas duas notas e corre à farmácia para liquidar uma dívida que aí tinha de... 200,00 euros.

O farmacêutico, com as duas notas na mão, corre disparado e vai a uma casa de alterne ali ao lado liquidar uma dívida com uma prostituta. Coincidentemente, a dívida era de 200 euros.

A prostituta agradecida, sai com o dinheiro em direcção ao hotel, lugar onde habitualmente levava os seus clientes e que ultimamente não havia pago pelas acomodações. Valor total da dívida: 200 euros. Ela avisa o gerente que está a pagar a conta e coloca as notas em cima do balcão.

Nesse preciso momento, o viajante retorna do quarto, diz não ser o que esperava, pega nas duas notas de volta, agradece e sai do hotel.

Ninguém ganhou ou gastou um cêntimo, porém agora toda a cidade vive sem dívidas, com o crédito restaurado e começa a ver o futuro com confiança!"

.. e se o dinheiro tivesse servido para pagar algo fora de economia local, será que a historia teria um final igualmente feliz?

Curso rápido de Economia II
«Um jovem», conta Alfred Sauvy, «entra numa joalharia e compra um anel de 1000 dólares, que paga com um cheque: o joalheiro, satisfeito com esta receita, compra o automóvel que deseja à algum tempo e endossa, para esse efeito, o cheque. E o circuito prossegue, até ao décimo possuidor do cheque, que não adquire nada, apresenta o cheque ao banco e fica a saber que não tem provisão.»

«Os dez signatários reúnem-se e decidiram partilhar, em partes iguais a perda de 1000 dólares; cada um deve perder 100 dólares e resigna-se. O comerciante de quadros anuncia que não perdera 100 dólares porque ganhou 200 dólares na venda. Ganha portanto 100 dólares limpos. Cada um apercebe-se então que o seu caso é igual. Assim, as 10 pessoas ganharam cada uma 100 dólares. Por outro lado, o jovem ganhou um anel por nada.»

A. Sauvy, La machine et le chômage : les progrès techniques et l'emploi – Paris, 1980

Ao colocarmos o nosso dinheiro fora de economia local, estamos a terminar a possibilidade de geração de renda para a comunidade local, incluindo para nós próprios. É o que nos ensina esta história.

Retirado, com autorização, do blog Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo

2 comentários:

Pedro Caramujo disse...

«Os dez signatários reúnem-se e decidiram partilhar, em partes iguais a perda de 1000 dólares; cada um deve perder 100 dólares e resigna-se. O comerciante de quadros anuncia que não perdera 100 dólares porque ganhou 200 dólares na venda. Ganha portanto 100 dólares limpos. Cada um apercebe-se então que o seu caso é igual. Assim, as 10 pessoas ganharam cada uma 100 dólares. Por outro lado, o jovem ganhou um anel por nada.»
Sócio, recomendo vivamente que voltem a ter aulas de matemática porque aquilo que aqui apresentam não faz sentido nenhum.
Vocês partem do principio que tudo o que foi vendido não custou nada a adquirir, e isso está obviamente errado. Dos 1000€ que o Joalheiro devia ter recebido, parte seria lucro e parte seria custo. A vossa ideia de perdoar metade do lucro não inviabiliza que o custo tenha que ser coberto, porque o Joalheiro também tem que pagar aos seus fornecedores, não é?
O prejuízo do Joalheiro é portanto 900€, do comerciante são outros 900€ e de toda a gente envolvida neste exemplo são 900€, total de 9000€.

Pedro Caramujo disse...

Sobre a Liçao 1:
"Enquanto o viajante inspecciona os quartos, o gerente do hotel sai correndo com as duas notas de 100,00 euros e vai à mercearia ao lado pagar uma dívida antiga, exactamente de 200 euros."
A situação do nosso País acabava logo aqui porque o Sr. da Mercearia tinha uma divida a um fornecedor estrangeiro e o dinheiro saída do País logo naquele momento.
Quando o viajante retorna à recepção o caldo fica logo entornado.
Infelizmente a economia local produz uma muito pequena percentagem dos bens consumidos na sociedade, pelo que grande parte é importado.
E como é que fazemos com que seja produzido mais em Portugal?

Enviar um comentário